A Esposa Silenciosa | Karin Slaughter

Bela Calli

10 de jul. de 20224 min de leitura

Escolhido pelo voto da maioria, este foi um dos livros do nosso bookclub. E para os amantes de suspense, a resenha de hoje é da saudosa Karin Slaughter, autora publicada em 120 países com mais de 35 milhões de exemplares vendidos por todo o mundo. Curiosamente, essa é a minha primeira obra dela e, como adoro um suspense, estava com as expectativas bem altas.

O que rolou? Continue a leitura.

Antes, falaremos sobre o livro:

"A Esposa Silenciosa" é um livro da autora Karin Slaughter, publicada no Brasil em 2020 pela editora HarperCollins. As 480 páginas são de muito suspense e mistério, mas prossiga com cautela, já que o livro pode causar gatilhos.

Foto do livro A Esposa Silenciosa — Reprodução | Instagram Bela Calli

Sinopse

Uma jovem é brutalmente assassinada na Geórgia. Um detento da penitenciária estadual, que foi testemunha de um homicídio ocorrido dentro da prisão, reconhece o modus operandi da morte da mulher: é idêntico ao do crime que o condenou oito anos antes, do qual sempre se declarou inocente. Isso coloca em xeque sua sentença e fornece uma nova evidência de que o verdadeiro assassino pode estar à solta. Ao investigar os crimes, Will Trent compreende que precisa solucionar a morte da jovem para chegar à verdade. Mas, quando o passado e o presente começam a colidir, ele percebe que tudo que ama pode estar em risco…

O que você encontrará?

E o que eu achei de "A Esposa Silenciosa"?

Em "A Esposa Silenciosa", acompanhamos Will Trent que, durante uma investigação com sua parceira numa prisão (que honestamente, foi apenas um pequeno detalhe da obra e raramente voltou a ser mencionada), se deparam com um criminoso que alega ter sido incriminado pela equipe policial liderada por Jeffrey Tolliver, há oito anos; Jeffrey: o ex-marido falecido de nossa outra protagonista, Sara — atualmente, namorada de Will.

Confuso? Bem, não se preocupe. A autora toma seu tempo para explicar essa relação. Inclusive, pelo menos os 20% iniciais foram sobre o drama que os envolve: se deveriam ou não investigar e acabar manchando a reputação de Jeffrey; se deveriam ou não contar para Sara sobre as novas circunstâncias; o ciúme de Will com o falecido... bem, as emoções foram realmente focadas nessa primeira parte, mas não foi esse o ponto que tornou a minha leitura um pouco... cansativa.

Foi o meu primeiro contato com as obras da autora e foi uma surpresa boa, a princípio. Normalmente, gosto de livros com riqueza de detalhes, àqueles que te traz uma boa imersão na história. Gosto de saber sobre as personalidades, as aparências, o cenário — e não me incomodou a explicitude das cenas criminais e autópsias, mas pode incomodar e MUITO as pessoas sensíveis para essas questões, então fica o aviso de gatilho.

"Ele queria criar a sua própria versão da esposa silenciosa."

Em geral, posso dizer que não foram os detalhes que me incomodaram nesse livro, porque eu gosto de detalhes... o que me incomodou foram os detalhes desnecessários para a narrativa.

Em determinados pontos, havia alguma informação que poderia ser simplesmente descartada porque era irrelevante. Às vezes, parecia que estava ali só para enfeitar a cena. E tudo bem, eu não me descabelei com isso a princípio... o verdadeiro problema aqui são os capítulos extremamente longos. Pois, junte parágrafos absurdamente detalhados e capítulos longos que até eu (que considero minha leitura relativamente rápida) demorei vinte minutos em cada. Vinte minutos!

A impressão que tive era que havia o dobro de páginas do que necessariamente tinha. Isso foi me cansando, então não li com a vontade de sempre. Mas, calma... isso não é uma resenha necessariamente negativa, não! Há pontos muito positivos na obra e planejo dar tanta atenção quanto às críticas que teci.

Para começar, eu simplesmente amei a atenção dada às questões médicas que o livro aborda. A autora consultou médicos para dar mais veracidade à sua história, assim como investigadores (pelo que notei nos agradecimentos finais). Isso só comprova o compromisso com a verossimilhança, que já era explícito na riqueza de detalhes. A impressão que tive, é que a autora desejava trazer a realidade para seu livro, por mais absurdo que o caso retratado seja. Em suas notas finais, também há uma passagem onde Karin Slaughter diz:

"Quero deixar claro que, propositalmente, não mencionei o nome do criminoso que assassinou pelo menos quatro pessoas em florestas nacionais localizadas na Geórgia, Flórida e Carolina do Norte, entre os anos de 2007 e 2008."

Isso despertou minha curiosidade (um dos meus hobbies é acompanhar canais no Youtube que retratam casos criminais) e encontrei o "Serial Killer da Floresta Nacional". A autora possivelmente se inspirou nesse caso, considerando que todas as vítimas do nosso criminoso fictício eram encontradas em bosques, mas não parece que vai muito além disso.

As circunstâncias dos crimes também são um ponto forte da obra. O suspense, a ânsia de desvendar todos os fatos, descobrir lentamente o modus operandi do assassino e sua evolução são ótimas. Apesar de eu ter desconfiado desde o princípio de sua identidade, isso não afetou a experiência... para quem acompanha minhas resenhas, sabe que adoro a sensação de acertar no final do livro (acho que isso influenciou positivamente a nota, talvez).

Acho válido ressaltar também que, apesar de focar inicialmente em Will e Sara, às vezes somos apresentados com cenas de vários passados, como da investigação de Jeffrey, a perspectiva de algumas vítimas... é feito de forma natural e ajuda a compreender todos os pontos. Mais um ponto positivo. Gostei bastante disso.

Em contrapartida, não me conectei verdadeiramente com nenhum personagem. Nenhum me fez realmente torcer e gostar. Mas, acredito que isso seja porque "A Esposa Silenciosa" faz parte de um universo da autora e há outros livros com os mesmos personagens. Ler somente esse não afetou a minha compreensão da história, mas prejudicou o envolvimento com os personagens, talvez.

Enfim, esse é um livro que não recomendo para todos, justamente por causa de seus gatilhos. As cenas são bem pesadas (tipo, muito) e se você é mais sensível para morte, cadáveres e violência sexual, talvez você devesse se abster dessa experiência.

Mas, por outro lado, se você é o tipo de pessoa que não se incomoda com detalhes gráficos e absurdos, então você provavelmente irá gostar.

Obs: jogar as cinzas de pessoas detestáveis na privada é a melhor forma de terapia.